terça-feira, 30 de junho de 2009

SUBLIMAÇÃO



Ando em trilhas sinuosas
O vento uiva, tenho medo!
Com a bruma, embaça-se
A esperança da chegada.
Apresso-me para buscar
O arrimo da manhã
Que não tarda estar,
Rompendo a escuridão.
Acelero, temerosa.
As copas das amendoeiras
Sacodem-se e as sombras,
Ao sopro do vento, no chão,
Desenham figuras horrendas
Que invadem e inundam
O meu espírito de lágrimas
De onde vêm, punhal obscuro,
Por que macera minha alma...
Ensina-me os atalhos de outrora,
Onde o teu clarão me norteie
E a tua chama retorne para mim
O tesouro que levaste embora.

LIBERDADE




Pássaro num canto melodioso
Alojou-se no meu peito,
Encantada o aprisionei.
E, nas noites de minha alma
Sua música tristonha
Encheu-me a cela da solidão,
E a simbiose se fez...
Ave canora, doce companheira,
Penso alforriá-la, mas como,
Se nem juntas conseguiremos
Um breve e mero voejar rasteiro.
Aproximam-se as manhãs do verão
Precisamos, aos corações tristonhos
Entoar ritmados acalantos.
Façamos então um acerto,
Eu abro a alcova do peito
E você canta a liberdade dos montes
Talvez por aí, em momentos de amor,
Nos encontremos em compassos e acordes perfeitos.

ENQUANTO VOCÊ DORMIA...





Enquanto você dormia, conspiravam, a todo vapor,
Todos os que fizeram parte dos nossos projetos de amor.
Eram anjos, dos mais delicados afetos, que em trombetas,
Anunciavam os portais, que se abriam, à partida da dor...

Cítaras doces e sonoras traziam, em ondas, o odor do bem,
Exalando a vida em alegorias e reverências infinitas.
E nós... como lírios em lodoso e úmido pântano,
Sorríamos, ao nos sentirmos libertos das desditas.

Sábios pupilos, conduzidos por sábias mãos, soubemos,
Fragilmente, e enfim, chegar às campanas da paz.
Tantos temporais de insensatez inundaram o nosso espírito,
Quantas mágoas permitimos que nos sufocassem a compreensão
E cegos, tateamos nas trevas, cheios de sofrimentos e rancor
Outros se juntaram a nós nesse difícil, mas utilíssimo mutirão,
Vínhamos cantando pela estrada, enquanto você dormia profundamente...
Sorrimos aos transeuntes e sentimos o ecoar das nossas canções.

As manhãs verdes de ventura nos acompanharam com seu frescor.
O sol veio e pôs-se a beijar as pétalas, que tristes e abandonadas
Se transformaram e, sentiram em suas entranhas uma enorme
E desmedida esperança, assim como as florezinhas tímidas e esmaecidas
Deixaram os caminhos púrpuros, logo, bem cedinho, ao amanhecer.
Invadimos a sua ermida de irremediável torpor e a transpusemos,
Loucos e cansados dos desterros, despertamos simultaneamente
Todos os sentidos e, agora, você já não precisa se ausentar assim...
Quanto eu quis, na plenitude desse sentimento que sempre existiu,
Encontrar você e achegar-me da cabeça aos pés, com os meus aliados,
Para que a sua alma cansada sentisse a leveza contida na minha
E numa só energia, nos fizéssemos uno e perenemente em paz.

Trovadora que veio de longe, bendigo os ermos caminhos
E as obscuras paragens, pois foram eles que me fizeram
Pegar, na natureza em burburinho, os perfumes dos jasmins
Sorver-lhe a brandura e alimentar estes versos fulgurantes,
Que para nós soprarão onde quisermos, despertos, doravante.

COMO TE AMO...




"Bateu a tal saudade a caminho do mar,
Enxuguei as lágrimas e segui arrepiada...
Tocaste na minha alma e no meu corpo,
Lugares mágicos onde habitas, repousas
E acendes toda a minha essência,
Onde vibramos, como se fôssemos um só,
Onde moureja o amor sôfrego e saudoso,
Das turbulências e silêncios de nós dois.
Se muitas vezes procuro por mim, não me encontro,
Não importando em que estado eu esteja,
Mas se busco por ti, encontramo-nos
E a duas almas, longamente nos completamos.

Se vencida pelo sono,sinto-me desdobrar
E, de novo, nos mesclamos entre afagos,
Enquanto nossos corpos se agüentarem amar,
Se em almas nos misturamos tanto, imagine
Quando nos encontrarmos verdadeiramente...
Em estando junto aos outros, sinto-me só,
Mas quando fico sozinha, tu bates à minha porta
E eu não me imagino respirar sem o teu cheiro...
Vem um novo dia e a cada dia o que me espera:
Acordar mais uma vez sem sintir a tua presença,
Já tentei viver distante disso, juro,
Mas tenho que confessar que te amo,
Amo mais que a mim mesma e, muito,
Muito mais do que um dia pensei amar."

terça-feira, 23 de junho de 2009

Paulo Leminsk

Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.

Paulo Leminsk

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Dia

Varando a noite
Vem o dia...
Repleto de luzes
Ofuscando tudo
Mexendo com o mundo
Abrindo casas e padarias
Escancarando o verão!
Espreguiçam-se as meninas
Contentes da invasão...
É dia!
E o dia é olho no olho
E tapa na cara da ilusão
Vinga ainda a poesia
Que a noite pariu o dia
Sem anestesia...
O sol entrou pelo quarto
Iluminando o retrato do soldado
Provocando saudade
A noite pariu o dia
Sem anestesia...


Fátima Moraes

terça-feira, 16 de junho de 2009

Gravação no Morro da Babilônia



Estavam sendo feitas gravações no Morro da Babilônia para o longa-metragem “BOPE: Tropa de Elite na Babilônia” e fui conferir a coisa. Estava em uma festinha de aniversário, quando da janela vi uma enorme lua atrás da igreja. Não estava bebendo nada, a não ser coca-light. De repente alguém me disse: “Ô, Vera Maria, não é lua não, é a gravação de um filme. Você não viu no elevador o aviso?” Fui correndo ver: “A Zazem Produções Audiovisuais está produzindo seu longa-metragem.... e tal... entre os dias 25 e 31de novembro, em algumas cenas irão ser disparados tiros de festim.”
Falei para a turma que eu iria subir o morro de moto-táxi. Ninguém se habilitou a me fazer companhia. E fui. Cigarro, cinco reais e identidade. Ao chegar, estava sendo gravada a cena de um baile funk no pátio da Babilônia. Lá fiquei, extasiada, quando um rapaz muito simpático falou comigo, perguntando se eu era figurante. Disse que não, que estava ali só pra checar, ver o que tava rolando. Ele ficou meu amigo, trocamos telefones, pegou água e café pra mim. Numa determinada hora (a cena foi repetida umas trocentas vezes), enquanto lá permaneci, 45 minutos ao todo, apareceu um japonês com uma prancheta na minha frente, anotando nomes. O garoto me chamou e colocamos nossos nomes e telefones eu nem sabia pra quê. Quando vimos, havíamos furado uma fila de umas cinquenta pessoas, mas ninguém reclamou, ninguém xingou, ninguém disse nada. Parecia que isto era muito natural. Era para o jantar. Deveríamos nos encaminhar à Quadra Esportiva, onde seria servida a refeição. Detalhe: eram mais ou menos onze e meia. Não fui porque estava na festinha e já havia comido bastante. Imagina! Resolvi ir embora. Estava de bom tamanho para aquela noite. Desci de moto-táxi. Muito legal! Ao chegar no final da tortuosa Ladeira Ary Barroso, estava zonzinha com a descida. Adorei!
Adorei tanto, que no dia seguinte retornei de moto-táxi à 1:30, sozinha, e lá desembarquei tranquilamente. Logo fiz amizade com um cara de cinquenta anos, o Gusmão, que era figurante, morador do morro, como eles se autodenominam “morráquio”, aposentado e como camelô vende suas bijuterias na rua Gustavo Sampaio, muito simpático, me trouxe café e biscoito, e um rapazinho bonitinho que ficava toda hora puxando conversa comigo, me chamando pra lá e pra cá, trazendo café, biscoitos, sanduíches. Também. Num dado momento perguntei se ele era da produção, figurante, ou se fazia faculdade de cinema. Ele riu e respondeu: “Não. Eu sou ator. Na verdade só fiz dois filmes até hoje”. Perguntei quais e ele disse: “Dois filhos de Francisco. Eu fui o Zezé de Camargo adulto. Meu nome é Thiago Mendonça”. Disse a ele que havia visto duas vezes. E Thiago perguntou tão simplesmente: “Você gostou do filme?”. Ao que eu respondi que sim, que tinha me emocionado e até chorei..
Fiquei amiga do Thiago, que a todo momento me abordava perguntando se eu queria alguma coisa. “Olha, ali tem água; olha, ali tem café e biscoito; Vera, você não está com frio? Você trabalha onde? Faz o quê?”... etc.
A cena que estavam filmando era a da captura do “fogueteiro” pelo esquadrão do BOPE, cujo chefe era o Wagner Moura. Muito lindo, – não imaginava que fosse tanto assim – e simpático, por sinal.
O filme é baseado em fatos reais, relatados pelo Coronel Pimentel. Dirigido por Marcos Prado (de Estamira), e produzido por José Padilha, que a cada corte mudava tudo na cena. O “fogueteiro” iria só ser capturado, e assim, muito ao vivo, muito louca a coisa, ele resolveu que iriam matar o pivete. Estava de casaco sem capuz, e, na cena seguinte, Padilha resolveu colocar capuz. O maior barato!
Coisas muito loucas aconteceram. Os galos do morro resolveram cantar às 3h40min, pois havia muita luz dos refletores. Deduzi que isto mexeu com a melatonina deles. Os cachorros começaram a latir e fugiram ganindo ao serem disparados os tiros que mataram o menino.
Fiz amizade com os pais do “fogueteiro”, Janete e Wladmir, que estavam lá quietinhos num canto, sem falar com ninguém. Muito na deles. Trocamos papos, ela me ajudou com os nomes das estrelas do filme e o que rolava na cena. E sobre o roteiro. Trocamos telefones e e-mails também, enfim trocamos muitas figurinhas.
Filei cigarro e dei um maço de cigarro “Black” para uma moça que morava lá e era figurante.
Outro homem, que também estava nas filmagens, e é da Babilônia, me contou a triste história dos “fogueteiros”, que sempre, invariavelmente, acabam morrendo. Seja por massacre, assassinato ou drogas. Comovente.
Assim foi, quando eu, com frio, peguei um roupão de um figurante e fiquei vestida com ele até o momento em que as filmagens acabaram. Precisei ir ao toalete e me mandaram para o camarim. Ao entrar, o camarim, era uma casa de morador, havia colchonetes, e uns caras estavam dormindo. Pé-ante-pé, para não fazer barulho, entrei e da mesma forma saí. Com cuidado. Nossa! Foi demais! A esta altura, já não me interessava saber as horas, não tinha mesmo mais moto-táxi, e fiquei até o fim, aproveitando um belo sol a nascer atrás do Morro do Leme, mais conhecido como Pedra do Leme. A turma da filmagem desceu até um barzinho, onde uma moça muito simpática não quis cobrar, um copo de leite gelado pois eu estava sem dinheiro. O Wagner Moura estava exausto, transpirando muito, embora estivesse frio. Parou ao meu lado e pediu uma cerveja “bem gelada”. Muito gato! Muito mesmo. Os pais do Brian, “o fogueteiro”, tiraram fotos nossas, ele,Wagner,Thiago e eu.
Desci sozinha a ladeira, a pé, e fui revolvendo a minha adolescência, ao passar pela casa do Zé Roberto, um antigo namorado, o terreno onde a família Burle Marx morou, e tive altos insights. Uma súbita sensação de adolescente realizada me invadiu avassaladoramente. Estava nas nuvens!
Senti-me a própria personagem do filme “A Rosa Púrpura do Cairo”, invadindo a tela e vivendo a ficção da minha liberdade.

Vera Sarres





sexta-feira, 12 de junho de 2009

quinta-feira, 11 de junho de 2009

PERDAS

de ernesto cardenhas

Ao te perder
tu e eu perdemos ...

Eu, porque tu eras quem eu amava mais ...
No entanto
de nós dois
tu perdeste mais que eu ...

Por que eu poderei amar a outra como amava a ti ...

Mas a ti não te amarão jamais,
como eu te amava !

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Haicais - Poeta da Galiza

O pôr do sol
tinge a água do mar
peixes dourados

Concha Rousia

Quantas folhas
da árvore que eu sou
despirá outono?

Concha Rousia

SCARFACE

Eu me fiz de forte o quanto pude.
E olhe em que me tornei: Cosa Nostra
ou a pérola – a dor da ostra?
Mas que se dane, a vida foi rude.


O meu espelho teima um bocado
em me revelar um monstro parido,
onde um olhar triste, refletido,
encara um rosto desfigurado.


Pois sinto o frio de uma navalha
me amaldiçoo qual a um canalha,
como se o mundo me estilhaçasse.


Vislumbro a morte nalgum pedaço:
miserável e entregue, me abraço
e lágrimas jorram pela face.

Vera Sarres

terça-feira, 9 de junho de 2009

O AMOR NÃO TEM NOME



Nas idas e vindas das ondas do mar
Vai uma oração nas águas inquietas
Perdi as vezes que errei as contas
Vai onda...
Vem onda...
Porém o pedido nunca se alcança
O mar me confunde...
Amo ou não amo?
Ou não devo amar?
O mar de tão longe manda avisar
Que Amor não tem nome...
Resta sonha!

Fátima Moraes

sábado, 6 de junho de 2009

O CUCO


O cuco do relógio estressado...
Cansado de dizer as horas
Ah, povo desatento
Que tenho que gritar tão alto!
E o cuco na sua rotina
Hora a hora dizendo as horas
Um dia a paciência esgotou-se
O cuco não saiu da casa...
E o povo atrasou-se!


Fátima Moraes

The end sem estilo

Você foi, dentre todos, o mais reles,
o mais vil e o mais covarde.
Fartou-se como pôde
de tudo o que de melhor havia
de iusões e de paixões.
Agora cospe no prato em que comeu
e o joga fora, quebrado, num canto qualquer.
E eu concluo, em luto:
você foi o fruto mais amargo,
a erva mais daninha,
que floriu em meu jardim.
Você foi meu pesadelo,
você foi o fim.

Vera Sarres

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Você Merece Uma Poesia

Você merece uma poesia
que fale de amor, de carinho,
de vida, que possa envolver
o seu mundo em doces
lembranças jamais esquecidas
Você merece uma poesia
que possa enfeitar o seu viver,
que fale de pequenas coisas
importantes ao seu ver.
Você merece uma poesia
tão bela, tão suave, tão pura,
que traga para a sua alma,
toda a beleza da ternura.
Você merece uma poesia.
e se fosse eu a escrevê-la,
com certeza, tudo eu diria,
tudo o que há em sua Alma Iluminada!
Thais S. Francisco